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Covid-19 – Por trás da relutância da vacina, uma mistura de “liberdade”, “desconfiança” e “medos”

O medo dos efeitos colaterais, mas também a “desconfiança” em relação às autoridades, bem como um “forte apego às liberdades individuais” alimentam a relutância de uma minoria de franceses em se vacinar contra a Covid-19, segundo Romy Sauvayre, sociólogo da ciência e das crenças.

Mas para este professor da Universidade Clermont Auvergne, as “sanções sociais” do passe de saúde podem acabar dobrando-os “sem fazê-los mudar de idéia”.

Como explicar a desconfiança em vacinas na França?

Está principalmente relacionado à incerteza da população quanto aos possíveis efeitos colaterais. Este é um mecanismo que foi encontrado com outras vacinas por vários séculos. Tem havido preocupações com a vacina contra a varíola, tosse convulsa, a vacina MMR (sarampo, caxumba, rubéola). As pessoas se perguntam: + é pior para mim pegar a doença ou ter os efeitos colaterais da vacina? + (Os benefícios das vacinas Covid superam em muito os riscos dos efeitos colaterais indesejáveis, tanto de acordo com os ensaios clínicos de laboratório quanto de acordo com os dados coletados desde sua comercialização, nota do Editor).

A população também precisa observar a periculosidade daquilo contra o que lutamos. Se a doença for percebida como não muito perigosa, vamos superestimar a periculosidade potencial dos efeitos colaterais da vacina, como para a gripe A H1N1 (em 2009) quando apenas 8% dos franceses foram vacinados.

Qual é o perfil das pessoas relutantes à vacinação?

De acordo com uma pesquisa Odoxa (1 de julho, nota do editor), 19% dos franceses estão relutantes, incluindo 8% hesitantes e 11% + recusam. As antivacinas alimentam a desconfiança em relação às instituições de saúde pública, ao governo e à mídia. Se o governo disser que a vacina é segura, eles pensarão que não. Eles rejeitam estudos epidemiológicos porque o corpo científico é, para eles, suspeito de conflito de interesses com os laboratórios farmacêuticos. Eles dão mais crédito às redes sociais do que à mídia tradicional.

As antivacinas têm um forte apego às liberdades individuais: supervalorizam esse valor em detrimento de todos os outros. Se lhes dissermos: + vacine-se para ajudar seus entes queridos e a sociedade, + isso exige um valor altruísta que fica em segundo plano diante da liberdade de recusar a vacina.

Geralmente são pessoas que rejeitam a medicina tradicional, preferindo a medicina alternativa.

A desconfiança em torno de uma vacina diminui com o tempo?

A confiança da vacina é elástica. No Reino Unido, por exemplo, surgiu o medo de que a vacina MMR esteja ligada ao autismo (após a publicação em 1998 de um estudo agora rejeitado, nota do Editor). Por força de campanhas de prevenção e após a desqualificação do cientista na origem desse temor, a cobertura vacinal voltou ao normal quinze anos após a saída do estudo.

Em 2018, o estado francês passou de três para onze vacinas obrigatórias para bebês, sob pena de não poder colocar o filho na creche ou na escola. Isso possibilitou aumentar a cobertura vacinal contra diversas doenças.

As sanções sociais impostas no momento devem obrigar a vacinação de antivacinas, sem mudar de opinião.

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