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Nice – Três dias após o ataque, um rito “para reparar a ofensa que foi feita” na basílica de Notre-Dame

Os paroquianos da basílica de Notre-Dame de l’Assomption, em Nice, reuniram-se no domingo para realizar um chamado rito de “reparação”, três dias depois dos atentados que deixaram três de seus familiares mortos dentro da igreja.

O sacristão da freguesia e dois fiéis foram esfaqueados até à morte por um tunisino de 21 anos em situação irregular, gravemente ferido durante a sua detenção pela polícia poucos minutos após o atentado.
O agressor chegou em 20 de setembro à ilha italiana de Lampedusa, depois em 9 de outubro em Bari, na região de Puglia, antes de partir para a França.

Sem o conhecimento dos serviços de inteligência, ele gritou “Allah Akbar” quando a polícia interveio. Ferido por várias balas durante sua prisão, ele ainda está hospitalizado.

“Esta é uma massa de reparação”, disse à Reuters o pároco de Notre-Dame de l’Assomption, Franklin Parmentier, sobre a cerimônia de domingo, um ritual necessário antes de qualquer recomeço do culto em um prédio católico onde sangue foi derramado. “Vamos reparar a ofensa cometida desde que alguém ousou matar na igreja.”
Este ritual, liderado pelo Bispo de Nice, Dom André Marceau, foi seguido por uma Missa por Todos os Santos.
“As pedras não podem gritar seu horror ante uma lei de ódio, violência e morte. Este lugar foi desviado de sua vocação. Este lugar foi profanado pelos três mortos, Vincent, Nadine e Simone”, declarou um no início da celebração.

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“São todos homens que foram profanados (…) por meio dessas três vidas roubadas em nome de uma falsa face de Deus, uma ideologia perversa, tóxica e mortal”, acrescentou.
Apenas paroquianos foram autorizados a assistir à cerimônia. O número de participantes foi limitado por motivos de saúde, dois dias após a entrada em vigor em toda a França de uma nova contenção para tentar conter a propagação do coronavírus.
Várias dezenas de pessoas se aglomeraram nas ruas próximas à basílica, impossibilitadas de acessar os arredores do edifício devido a um importante dispositivo de segurança. O átrio da igreja foi coberto com flores e velas colocadas nos últimos dias em homenagem às vítimas.
“Vim porque é minha igreja. Fui batizada, comunguei, casei lá. Meus filhos foram batizados e comungaram lá. Meus pais foram sepultados lá. Foi muito importante vir em solidariedade”, disse Michèle, 67, que segurava uma vela na mão.
“É um choque. Podemos aceitar todas as religiões, amar a Deus mesmo assim, mas não temos o direito de tirar a vida de quem ora”, acrescentou.
Para Martine Leroy, 61, era importante mostrar a unidade e a força coletiva dos niçois.
“Acho que os niçois já sofreram bastante, é muito mesmo. A gente forma um bloco hoje e esse bloco tem que ser visto, que o mundo inteiro veja”, disse ela. “Tudo deve parar. Estamos aqui para dizer aos nossos líderes que estamos fartos, que queremos andar pela nossa casa em silêncio.”
Sandrine, 45, está preocupada com o futuro. “Estou aqui para garantir que não haja amálgama, nem desvios. Somos todos cidadãos do mundo, devemos estar juntos e não dividir”, disse ela.

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